Se você já ouviu falar em meditação, pode até se perguntar se não é a mesma coisa. Realmente, o mindfulness e a meditação têm muito em comum, mas a prática é completamente diferente.
Em primeiro lugar, o foco da meditação é esvaziar a mente. Do mindfulness, é preenchê-la com aquilo que está acontecendo no presente. Não se trata de parar os pensamentos, como muitos tentam fazer na meditação, mas sim focá-los intencionalmente naquilo que está acontecendo no momento atual, eliminando julgamentos e distrações.
Desta forma, o mindfulness não necessita de um espaço e momento específico para ser praticado, como acontece na meditação. Essa técnica pode ser feita em qualquer momento: durante o trabalho, lavando a louça, antes de dormir, em momentos de descanso, entre outros.
No entanto, o principal benefício é nos momentos de desequilíbrio emocional: quando algo ruim acontece, tendemos a pensar negativamente e ficar ruminando o acontecimento e nossas percepções acerca do ocorrido.
Ao praticar o mindfulness, podemos observar com mais clareza o que estamos sentindo, verificar se nossos pensamentos a respeito do evento correspondem à realidade e ter uma maior consciência para tomar decisões a respeito de como resolver o problema.
Por ser frequentemente associada a tradições meditativas orientais, o mindfulness só ganhou a atenção da medicina comportamental no final dos anos 70, quando Jon Kabat-Zinn, um médico especialista em meditação Zen, trouxe o conceito de mindfulness como uma prática laica, ou seja, não ligada à religião.
Juntando seus conhecimentos a respeito da medicina, do budismo zen e da ioga, ele criou um programa para auxiliar pessoas com condições de difícil tratamento na Universidade de Massachusetts. Isso chamou a atenção de diversos pesquisadores, que começaram a buscar a cientificidade por trás da prática.
O programa, chamado Programa de Redução do Estresse Baseado em Mindfulness, consistia em 8 sessões ao longo de 8 semanas com cerca de 2 horas de duração. Os participantes eram solicitados a dedicar até uma hora por dia à prática de mindfulness, além de reservar um dia da semana para praticar o mindfulness intensamente.
Por conta de sua eficácia, essa técnica foi incorporada em diversos tipos de terapias cognitivas e comportamentais, como a terapia comportamental-dialética, a terapia de aceitação e compromisso (ACT), entre outras.
Alguns outros programas desenvolvidos a partir do Programa de Redução do Estresse Baseado em Mindfulness são:
· Terapia Cognitiva Baseada na Atenção Plena: Desenvolvida especialmente para pacientes com depressão maior com alto risco de recaída;
· Prevenção de Recaída Baseada em Mindfulness: Direcionada à prevenção de recaídas em pessoas com dependência química;
Consciência Alimentar Baseada em Atenção Plena: Focada em auxiliar pessoas que sofrem com sobrepeso, obesidade e compulsão alimentar.
Diversos estudos feitos baseados nesse treino mostram que a prática do mindfulness auxilia na diminuição de problemas psicossomáticos, dores crônicas, fibromialgia, transtornos de ansiedade, entre outros.
O treinamento também é eficaz para evitar a recaída da depressão, pois os pacientes aprendem a identificar os pensamentos e sentimentos que servem de gatilho para um episódio depressivo, deixando-os ir antes que eles iniciam uma espiral rumo ao episódio.
Atualmente, os estudos sobre mindfulness já trouxeram diversas evidências de sua eficácia, abrindo espaço para que a técnica seja considerada uma opção terapêutica (e não apenas uma prática integrativa ou complementar). Ela traz resultados em casos de transtornos crônicos, manejo do estresse e melhora na qualidade de vida.
Em indivíduos saudáveis, a prática do mindfulness é capaz de reduzir os níveis de estresse e combater sintomas de ansiedade e depressão. Ela promove aumento na percepção da qualidade de vida, auxiliando até mesmo na prevenção de burnout (síndrome do esgotamento profissional).
O mindfulness é eficaz também no manejo de estresse de pessoas com transtornos crônicos, sejam eles somáticos (orgânicos) ou mentais. Em um estudo, pessoas que apresentavam dores crônicas, fibromialgia, câncer e doenças cardiovasculares tiveram um melhor manejo do estresse devido à prática da atenção plena.
A prática APG Mindfulness se inspirou nos ensinamentos do médico, doutor em biologia molecular, Jon Kabat- Zinn, fundador do Center for Mindfulness in Medicine, Health care and Society, autor de vários livros sobre o tema da Atenção Plena.
A atenção Plena pode ser entendida como a aceitação sem julgamento e a investigação “de coração aberto” da experiência atual, no momento presente, que inclui sensações corporais, estados mentais internos, pensamentos, emoções, impulsos e memórias, a fim de reduzir o sofrimento ou a angústia e aumentar o bem-estar.
E mais do que isso, a meditação com atenção Plena, influencia e transforma a nossa qualidade de vida, a nossa experiência e os nossos relacionamentos com os outros e com o mundo.
“Quando estamos no piloto automático deixamos escapar coisas que passam diante dos nossos olhos, e parte do que deixamos escapar poderia enriquecer a nossa vida.”
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